terça-feira, 20 de julho de 2010

Goles de lucidez

Posso ser levemente, inserido, em seu cotidiano?
Olhei em direção a voz e lhe respondi, seja compassiva e virtuosa, só assim caberá em meu Mundo. Sorri, friamente, é claro. Não gosto de ser perturbada. Como um soldado em guerra, me revesti de armaduras, fechei o rosto, fiquei imóvel, observei cada movimento atentamente, enquanto uma sinergia era mutuamente trocada por nossas almas.Meus lábios se comprimiam,apertados,se obrigavam a calar, sem dizer qualquer mera mentira que fosse. Eu não estava disposta aquilo, aquilo que eu não sabia definir. Eu tinha medo. Medo de falhar. Medo de tentar. Medo de conhecer “aquilo”. O medo quase me sufocou. Essa nova sensação fez eu me contorcer, me esconder, me negar. Eu queria preservar a minha identidade, afinal, ela levou anos para ser descoberta, e ainda sinto que não a conheço, inteiramente. Ousada. Prepotente. Avassaladora. A voz estava cada vez mais próxima, embora eu tivesse demorado um tempo absurdo para me conscientizar de sua presença.
Não se machuque.
Não se machuque.
Repetia inúmeras vezes. Como um eco, tomava conta da minha mente.
Atormentava e aborrecia.
Era estranho, mais fazia algum sentido. Nesses momentos eu me sentia envolvida, protegida, particularmente aliviada e deslumbrada.
A voz persistia em ser lembrada, volta e meia vinha desabafar ao pé do ouvido.
Era por impulso.
Sem o qual, não viveria mais.
Uma nova sensação se encarregou de me distrair, era inconfundível a maneira com que conhecia a linguagem oculta dos meus pensamentos, com que dava um inestimável valor aos meus sentimentos, com que ouvia atenciosamente meus segredos, que derramava lágrimas e enxugava as minhas, com que dividia suas gargalhadas inocentes, a maneira ilegível com que me conhecia e se parecia comigo. Por muito tempo, pensei ser homem, mulher, a morte, até mesmo Deus. Com uns goles de lucidez, nos abraçamos. No seu abraço senti o sangue pulsar intensamente, o coração dar marteladas no céu da boca, o choro engasgar na garganta, os olhos fecharem em compaixão. Nossos braços se enlaçaram, se abrigaram, e repousaram apertados.
A voz, então sussurrou:
Não sou morte, não sou Deus, não sou homem, não sou mulher.
Sou seu amigo. Somente seu amigo.

4 comentários:

  1. Feliz dia do amigo, o melhor conselheiro.

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  2. Amigo é nosso maior tesouro
    sinto tanta sua falta bjs
    mana!!

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  3. Ownn que lindoo, feliz dia do amigo mocinha adorada

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  4. "a maneira ilegível com que me conhecia e se parecia comigo."

    Minha Lua, meu Yin! ^^
    Lindo.
    Te amo.

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