O que é
que você tem? Não importa quantas quadras eu vire à esquerda, ou se eu atravessar
a rua (...) sempre acabo nos teus braços. No teu abraço. Você precisa mesmo me
ligar e me conquistar toda vez que eu desisto de nós, e resolvo contradizer meu
coração? Que tipo de amor é esse, que não precisa ser alimentado, mas que só cresce
e ocupa todo o espaço? O que é que você tem? Nesse seu misterioso segredo, onde
eu sou capaz de sacrificar minha própria dor. Capaz de desobedecer até mesmo aos
conselhos mais sensatos. Capaz de esquecer-me do tempo ruim, do frio lá fora. Dos
outros caras igualmente lindos e inteligentes. Do mundo girando pra ter mais, e
outra, e uma última vez o seu sorriso. Que loucura absurda essa, onde insisto
em te incluir nos meus planos mais íntimos do futuro, e em tudo mais que me
pertence. O que é que você tem? Nesse seu olhar enfeitiçado capaz de me fazer
implorar pelos seus defeitos e suas manias mais irritantes? O que é? O que você
tem? Que direito você tem de manipular minhas escolhas, meus erros? Quem? Quem
você pensa que é? Me fala! Teu maior prazer é esse? Esse é o seu segredo, não
é? Diz! É assim que você me prende ao teu lado, e me deixa assim (....) tão
solta. É assim que você me encara, sem me olhar nos olhos. Me enchendo de
dúvidas. Me enlouquecendo de porquês. É assim que você me ama? É assim que você
espera que eu te ame? E eu amo! Sem explicações (...) Você me enche de esperanças.
Não é esse o seu maior triunfo? Fala, porra! Enche o peito de ar e fala! E
assim que você me quer? Do avesso. De cabeça pra baixo, de pernas pro ar. Ao
contrário. Fugindo de mim. Do meu controle. Do nosso contrato. Amor não te
basta? O que é que você tem? Porque é que você não traz junto às suas promessas
a nossa resolução? Não adianta fazer cálculos absurdos, como se eu fosse um
problema, uma mera regra de três, e pronto. Tudo resolvido. Não adianta me
oferecer curativos baratos ou me encher de gracejos. Se você prefere a paz, a
água morna, os livros organizados na prateleira, as camisas em ordem de cor e o
tédio da solidão, troca de mundo, só não tenta contaminar o meu.
O que é
que você tem?
Nada!
E eu?
O que é
que eu tenho?