sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Passos descalços dados no escuro

Caminhava em círculos, sem qualquer objetivo ou direção. Encontrava-se nessa situação mansa e irracionalmente, intima ha algum tempo. Essa era a vida patética, da qual não se orgulhava. Soluços incalculados, seguidos de choros de criança, e ausência de fôlego.
Sempre a mesma rotina. Passos descalços dados no escuro.
No espelho, uma estranha qualquer, que habita o mesmo teto. Relação crua, por sua incompatibilidade em amar.
Vai embora.
Volta.
Sem dar conta, os pés descalços, no piso gelado.
Não comeu.
Não bebeu.
Apenas morreu.
Luzes apagadas, num luto aparente.
Lançou-se ao chão onde abraçou os joelhos.
No desespero deu um grito suave, logo abafado por seus dedos magros e compridos. Não estava disposta a ouvir-se.
A chuva caindo lá fora.
Alienada, em seu silêncio.
Em sua total ausência.
Nenhuma noção do tempo.
Cabelos escassos, longos e grisalhos, rugas vibrantes.
A velhice, sem porquês.
Não há incomodo.
Não se questiona.
No chão...
Pegadas de passos descalços dados no escuro.