quarta-feira, 6 de abril de 2011

Pé de Jabuticaba

Estavam ali, parados, homem e mulher, aturdidos. Nada falavam, apenas olhavam para o horizonte com a eternidade de uma juventude plena.
O entardecer ia trazendo consigo a escuridão do céu, que logo se via banhado pelo brilho de estrelas propositalmente colocadas em uma ordem linear, desenhando uma suave melodia sobre o céu, extraordinariamente vasto.
A lua tão cheia parecia explodir triunfante em feixes de luz, que iluminavam os olhos daqueles dois, que se encontravam refletidos como meros esboços no lago de águas frias e doce.
Um leve coaxar de sapos ritmava junto à respiração lenta e compassada do casal, que calava. As folhas secas caiam sem que se pudesse evitar, e decoravam a grama molhada pelo orvalho da úmida noite.
As águas se moviam em danças circulares, a valsa dos peixes não era vista mais logo sentida a cada salto brusco que tomava os ares e novamente retornava ás águas, tão profundas.
O grilo em Mi menor compunha cantigas de roda e como em um truque de mágica os vaga-lumes rapidamente tornavam a colorir a vida da noite morta.
As flores liberavam espécie atípica de perfume que ecoava na narina trancada dos dois, que diante do espetáculo só podiam se calar.
As formigas subiam pelas canelas finas causando arrepios e coceiras indesejadas, que logo estampavam um sorriso inocente no rosto enrijecido de tanto ventar.
Em passos lentos o nevoeiro dá lugar a um emaranhado de brancos, cada coisa vai voltando ao seu lugar, a insensata cegueira faz com que eles finalmente se olhem.
Olhos cobertos e floridos de sentidos.
Levantam, abraçam-se, cada um segue para um lado.
Separados por passos desiguais, eles voltam a se encarar.
E ouve-se um eco por entre o pé de jabuticaba: “Até amanhã, meu amor.”

2 comentários:

  1. Singelo, bonito. Fofo. ;P
    Adorei... (L)

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  2. Já lhe disse que eu acho que este é um dos seus melhores textos?
    então repito, acho lindo!

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