domingo, 1 de agosto de 2010

Da janela de uma casa qualquer

Na realidade, não queria mesmo nada, só sair andando por ai, despreocupada, sem rumo.
Não queria destinos, queria apenas ter a sensação de uma surpresa agradável.
O vento vinha de encontro à janela, parecia invadi-la, sem pedir licença.
Seu barulho era suave, quase imperceptível, mas isso a detinha, e por hora roubava-lhe a atenção.
Abriu a cortina e uma pequena fresta na janela.
Sentiu no rosto o ar gelado da noite.
Ali permaneceu sem qualquer palavra ou gesto, apenas olhando.
O frio era quase insuportável, congelava seu corpo.
As pernas dormiam anestesiadas, não obedeciam a seus comandos.
Em meio ao espanto, aquele pensamento detestável veio vindo, lentamente.
Riu sem saber o porquê, até ser interrompida por um longo bocejo.
Baixou a cabeça, pesada, viu escapar por entre o vão dos dedos todos os amigos, os falsos amores.
Tinham todos desaparecido, todos.
Queria sumir e deixar seus palavrões a quem fosse, mas algo a conteve, talvez a sensatez.
Não foi capaz de dizer palavras vulgares, apenas se recompôs e deu lugar as lágrimas que desciam acompanhadas das salgadas gotas de suor.
Só a presença de alguém lhe bastava, mesmo que disfarçada.
Tentava desesperadamente construir em palavra por palavra um diálogo, forçado.
E a verdade?
É que estava sozinha, procurando um abrigo na vida de alguém.
Um abrigo sem dor nem humilhação.
A sempre oportunista culpa veio, refletiu no vidro transparente, apontando tudo que queria esquecer.
Buscou por algo, até notar que essa, era sua única companhia.
Então, fechou a cortina e aprendeu a conviver com a solidão.

2 comentários:

  1. "Queria sumir e deixar seus palavrões a quem fosse, mas algo a conteve, talvez a sensatez." E quem, por um segundo que fosse, não sentiu isso? Ótimo, ótimo texto Lô. Obrigada por me fazer viajar ;)

    ResponderExcluir
  2. Lindo. Adorei!
    estou precisando sentir esse ar frio no meu rosto.

    beijos

    ResponderExcluir