quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Tão certo quanto à chuva


Não diga o que é melhor pra você.
Sinceramente?
Não me interessa!
Só quero saber o melhor pra mim.
É engraçado... Você teve a sua hora, agora passou. Pode pegar a sua meia dúzia de camisas e calças, sua escova de dente e o perfume que eu te dei. 
Jogue fora, rasgue todas as cartas, queime...me esqueça!
Pode ficar achando que eu preciso de uma camisa de força, talvez seja o caso. Há quem diga que o amor também enlouquece, então... fica a seu critério.
Só peço para deixar eu sofrer minha loucura sozinha. Longe daqui. Longe de você. Adeus!
Depois de ler e reler o “bilhete” guardei-o no envelope.
Respirei fundo.
Andei de um lado para o outro, até me acomodar de pé espiando pela fresta da janela minuto após minuto, em uma ansiedade extrema. Cheguei a acreditar que meu coração fosse pular pela boca, ou que eu não fosse suportar essa espera.
“Quer saber, ele é cheio de defeitos, me faz mal e eu não o amo”. Mentia pra mim mesma, era como se isso me encorajasse. Isso me impedia de desistir, por impulso ou fraqueza, não sei.
Nada de extraordinário, o relógio marcava 18 horas, e eu sabia que dentro de alguns minutos ele estaria ali, lendo aquela carta.
Mas o que mais me dava medo era imaginar a sua reação, só de pensar que ele pudesse rir, e fazer eu me sentir uma ridícula, ou se ele chorasse e eu fosse abraçá-lo comovida e pedisse pra esquecer tudo que tinha lido.
E se eu não fosse capaz de suportar vê-lo ir embora? E se eu nunca mais sentisse o seu perfume? O medo das inúmeras possibilidades me fazia roer as unhas, transpirar, surtar internamente.
Até que eu declarei: está pronto. Tomei minha decisão, esta feita a confusão e, com isso, tudo que nós vivemos nesses anos iriam por água a baixo. A vida em casal, as viagens, os vinhos caríssimos, os nossos beijos... o nosso...tudo que havíamos construído.
Eu sabia que daquele dia em diante eu teria trocado os meus problemas pelos problemas dos outros, e que teria que fingir um “tudo está bem” para poder dormir nas próximas noites. 
Mas naquele momento não sabia se tinha dito o bastante, nem se tinha sido o suficiente.
Suficiente ou não, eu tinha a certeza de ter amado. Eu tinha a certeza de estar machucada. Eu tinha também as incertezas...
Foi preciso abrir mão de uma fantasia para viver a realidade. Realidade onde só tinha espaço para um de nós. Estou decidida, não ousarei olhar pra trás. Seguirei sozinha. Tão certo quanto à chuva, certamente virá outro, um novo e um “certo” amor. Mas aí, daqui uns anos, eu me reinvento, me alimento de outros Paulo’s, outros Mario’s, outros Vitor’s, com seus 20 e poucos, 30 e poucos anos e manias variadas. Nunca se sabe. Mas prometo não esquecer o que foi vivido naquele quarto, naquela sala, afinal, acho que é perfeitamente possível deixar vivos bons momentos na memória, só isso. Agradeço a companhia, as risadas, tudo. Mas meu querido, a menininha de 20 anos, inocente e sem maturidade aprendeu com alguns tombos que chega uma hora que é preciso ir pra casa, que tem hora do banho quente, das roupas limpas, dos bons drinques... tem também a hora de  juntar as rosas e seus espinhos, pra oferecer a alguém. Alguém capaz de cultivá-la. De fazê-la viver. De fazê-la amar novamente.

2 comentários:

  1. "Até que eu declarei: está pronto. Tomei minha decisão, esta feita a confusão e, com isso, tudo que nós vivemos nesses anos iriam por água a baixo. A vida em casal, as viagens, os vinhos caríssimos, os nossos beijos... o nosso...tudo que havíamos construído.
    Eu sabia que daquele dia em diante eu teria trocado os meus problemas pelos problemas dos outros, e que teria que fingir um “tudo está bem” para poder dormir nas próximas noites.
    Mas naquele momento não sabia se tinha dito o bastante, nem se tinha sido o suficiente.
    Suficiente ou não, eu tinha a certeza de ter amado. Eu tinha a certeza de estar machucada. Eu tinha também as incertezas..."

    Sem mais.

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  2. " Eu sabia que daquele dia em diante eu teria trocado os meus problemas pelos problemas dos outros, e que teria que fingir um “tudo está bem” para poder dormir nas próximas noites. "

    chorei nessa parte, porque meio que me encontrei nela. x.x

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