sábado, 31 de março de 2012

Silêncio Seguido de Suspiro

Assim do meu jeito, em passos inseguros, com medo perguntei:
-Você está pronto para recomeçar?


Momento em que ele baixa a cabeça e desvia do assunto.
Mal sabe ele, que rompi meu contrato com o resto do mundo para me deixar envolver novamente.
Não foi fácil.
Assumo.
Suspiro e retruco.
-Eu não quero garantias. Não estou exigindo o seu melhor. Não estou lhe fazendo promessas, nem pedindo seu tempo integral. Não quero frustrar suas expectativas, apesar de ser muito boa nisso. Eu só quero um novo começo, uma oportunidade para ao fim dizer: “(...) felizes para sempre”.
Momento dramático em que ele diz:
-As coisas já não estão dando certo, os planos estão perdendo a força.
Silêncio seguido de suspiro.
Mal sabe ele, que esse é o momento oportuno para levar uma sacudida da vida. Ou...
Ponta dos dedos fazendo movimentos circulares na mesa.
Momento em que me sinto no direito de desabafar:
-Se você acha que tudo está resolvido, que é só virar as costas e pronto, tenho algo triste pra constatar. Isso requer mais, muito mais de mim, de nós. Requer mais que encontros casuais, mais do que beijos salpicados de desejo, sexo e palavras ditas da boca pra fora.
Momento em que ele franze a testa e me olha nos olhos.
Eu perplexa continuo meu discurso careta-didático-de-inutilidade-pública:
-Vem cá, caso não tenha reparado ainda, estamos falando de algo essencial, que não pode ser comprado em qualquer “lojinha” de conveniência 24 horas com seu cartão fidelidade. Não se pode mendigar por aí, pedir emprestado a um amigo ou rouba-lo de algum otário descuidado.
Momento em que se torna inevitável conter a lágrima.
Refletindo e com rancor disparo algo do tipo:
-Veja só se não estou falando novamente do amor, da porra do A-M-O-R em letras garrafais separado por hífen, sem reticências ou exclamação.
Momento em que ele pede um copo com água e bebe em um gole.
Mal sabe ele que eu sentia uma mistura de aperto, com sufoco, um pouco de alegria e tristeza.
Momento em que ele coloca o copo sobre a mesa e expõe:
-Não vai dar certo. Eu sei disso. Você também sabe. Não faz sentido insistir.
Silêncio seguido de suspiro.
Momento em que ele faz exatamente o que eu imaginava. Pega o casaco, a chave do carro, o maço de cigarros, me beija e vira na esquina mais próxima.
Momento em que nada faz sentido.  Momento que eu abro os olhos, cancelo a ligação, o suposto convite para uma reconciliação e retomo o caminho de casa. 

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